domingo, 14 de outubro de 2007

Perereca.


Vieira suava e fazia que não com a cabeça dando pinote na cadeira:
-"Não! Não pode ser! Estou aqui há cinquenta e sete minutos e ninguém teve a hombridade de me atender!"
A moça sonsa dizia:
-"Senhor, nós estaremos disponibilizando o resultado dentro de alguns minutos."
Vieira já batendo os pés, a úlcera em pandarecos, os poucos fios da careca suada, aterrorizava veemente:
-"Escuta aqui meu benzinho, eu preciso saber! Eu preciso saber!"
A moça lânguida:
"Mais um segundo por favor...Ok. Pode entrar senhor Vieira."
Vieira entra correndo e andando com passinhos curtinhos e desequilibrados, a voz descontrolada, úlcera nas cucuias, vozifera:
"Eu preciso saber doutor! Eu preciso saber!"
Doutor Magno abre aquele sorriso incrível: "Meu filho, não te preocupa. A perereca fica. Que porcelana hein?!"

E Vieira deixa-se derreter na cadeira de couro egípsio de Doutor Magno: "Obrigada doutor. Fostes um anjo. Pois não me desfaço de minha perereca nem depois de morto!"
"Vai com o sagrado coração de Jesus meu filho". Disse doutor Magno solenemente.

Já na rua, Vieira abre o saquinho do consultório dentário, pega a perereca e recoloca na boca. Acende um cigarro, sente o prazer da tarde que se vai e balbucia pra si com ar de vencedor: " Ah minha pererequinha....!"